Por Alexandre Lucas*
Na Alemanha nazista, o Ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels proclamou " A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada". Na mesma linhagem e sem a esconder o aniquilamento criativo, o secretário Especial de Cultura do Governo de Jair Bolsonaro, Roberto Alvim, faz pronunciamento plagiado do nazismo, ao anunciar o Prêmio Nacional das Artes, em vídeo institucional, afirmou "A arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada". O vídeo institucional ainda se apropria da estética do nazismo ao usar trechos da ópera “Lohengrin”, de Richard Wagner. A ópera foi um dos instrumentos da propaganda Nazista. Seguindo o mesmo intento, o Prêmio contemplará 05 óperas, cada opera receberá o valor de R$ 1.1 milhão, totalizando R$ 5.5 milhão.
Após a repercussão negativa do vídeo institucional e de live realizada em conjunto com presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, postada na página do Facebook de Bolsonaro, diversos segmentos das artes, das culturas, do parlamento, da comunidade judaica e do próprio governo manifestaram repúdio as declarações de Alvim. O Secretário Roberto Alvim é demitido, nitidamente, não pelo seu discurso, que é igualável ao do presidente, que faz declarações na Live tipo “você é a cultura de verdade, uma coisa que não tínhamos”.
O jogo de ataque e minimização são uma recorrente deste governo, como forma de criar estratégias para ampliar as vozes conservadoras e reacionárias que os sustentam.
A saída do Roberto Alvim, é uma dessas estratégias de minimização, entretanto o ataque bolsonarista prossegue. A estrutura de poder da Secretaria Especial da Cultura tem um alinhamento ideológico conservador, é o que demonstra a biografia de muitos dos gestores.
O Bolsonarismo cultural é marcado por uma série de mecanismos que reúne um arcabouço ideológico conservador que transita de Olavo de Carvalho ao movimento neopentecostal, passando pelo nazismo e o fascismo. Os temos recorrentes no linguajar deste governo demonstra o seu caráter restrito e elitista. “Cultura para uma maioria”, “cultura sadia”, “conservadorismo em arte”, “arte de qualidade”, “alta cultura” e “pátria, família e deus” são expressões que têm uma significação ideológica de desprezo e combate a democracia estética e artística.
Roberto Alvim, por mais que não tenha base de diálogo com os segmentos das culturas, das artes e da intelectualidade brasileira, no seu discurso no vídeo institucional, enquanto, representação do governo Bolsonaro, faz total sentido e ganha capilaridade dos seus apoiadores. Notadamente, os neopentecostais (O próprio Alvim é da Igreja Evangélica Bola de Neve), os militares e a elite econômica, em outras palavras, têm um discurso que serve como munição contra os movimentos sociais, a diversidade e pluralidade estética, artística, literária, intelectual e a peculiaridade e a discrepância socioeconômica do povo brasileiro.
O bolsonarismo cultural compõe uma agenda de descontinuidade das políticas públicas para a cultura no país, conquistadas no embate, no diálogo e nos mecanismos de participação social, destacadamente no governo Lula – Dilma, onde foram democratizadas e descentralizadas as políticas de fomento, intersetorialidade e proteção do patrimônio material e imaterial da cultura e provocou a redescoberta da memória, inventabilidade, diversidade étnica, religiosa, artística e cultural da heterogeneidade do nosso tecido social. Duas conquistas importantes desse período merecem destaque: a criação do Sistema Nacional de Cultura, que prevê repasse de recursos para estados e municípios, planejamento da política pública de cultura e a participação social, e, criação do Cultura Viva, principal política de base comunitária e de protagonismo cultural do país, ambas ameaçadas.
O bolsonarismo cultural, pelos discursos proferidos, antes e durante o Alvim, aponta para definição antecipada de recursos financeiros com conteúdo predefinidos. Esse é o caminho da censura prévia, da ditadura estética e artística, de violação da liberdade de pensamento e criação da tentativa ficcional de reduzir a estética na forma e no conteúdo do conservadorismo.
A batalha contra o bolsonarismo cultural persiste, ganha força no campo ideológico e institucional.
As eleições municipais é uma das frentes de luta para reconquistar as políticas públicas para cultura e de acumular forças para derrotar o Governo Bolsonaro. Unidade e frente amplas para as próximas eleições é o que poderá favorecer o avanço do campo democrático, progressista, popular e de esquerda, ou é isso, ou serão eles.
*Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e atual presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato