Quando a Justiça visita a Universidade, o que nos resta?


Prof. Dr. Egberto Melo*  

Esta semana o Supremo Tribunal Federal brasileiro posicionou-se por unanimidade e veementemente em defesa da liberdade de expressão, da autonomia universitária e da liberdade de cátedra. Certamente uma importante decisão no momento em que tramita no Parlamento a proposta de Lei da Mordaça enquanto eleitos propõem o denuncismo e o retorno aos erros feéricos da criação em sete dias, da Terra plana e de que a Antártida é um paredão e que o Sol nem é grande nem está longe. A decisão do STF é o que há de menos triste no horror de turbulências que se tornou o País nos últimos tempos. A autonomia garantida à Universidade a coloca talvez como única trincheira para se falar de verdade e de falsidade, lugar dos escrúpulos, da hesitação e da inquietude espiritual. 

Cabe à Universidade Brasileira honrar o lugar conquistado e reconhecido pelo Supremo. Lugar onde a verdade não é nova e nem velha, mas factível ao erro. É hora de abandonar a vocação de querer ser o lugar de anunciação definitiva, essencial e perfeita. É tempo de mergulhar no imaginário, nos minúsculos círculos humanos, de reagrupamento em torno dos erros. A autonomia e liberdade possibilitam a produção do saber oscilante entre a pobreza e a infinitude, a aridez e o acúmulo, a inquirição, a constatação e/ou a negação. A liberdade de pensamento na academia aplicada a todos os domínios da existência humana garante a investigação, a busca do espelho, do Outro e de cada ser, a comprovação microscópica e avanço da nanotecnologia. A autonomia ajuda a compreender a macrocósmica humana, aproxima da configuração geral da natureza, seus limites e possiblidades e que os privilégios do homem são restritos.

Agora, é hora de reanimarmos a dúvida. Na infinitude constitutiva do saber façamos jus às nossas liberdades de conhecer as dimensões irrestritas dos astros, das florestas, das calmarias e tempestades que nos habitam.





Prof. Dr. Egberto Melo 
* Professor da Universidade Regional do Cariri (URCA). Mestre em História Social e Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará. 

Proxima
« Anterior
Anterior
Proxima »
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário