Por Alexandre Lucas
A cidade cresce de forma
desordenada e desigual. O seu contraste vai se desenhando a partir do processo
de acumulação e concentração do capital e se pulveriza na construção de uma
urbanização permeada pela separação, exclusão e o conflito.
O direito à cidade começa a ser
discutido tendo como base o entendimento do seu conflito e do caráter antagônico,
caracterizado pela luta de classes, ou
seja, entre os que detém e os que não tem o dinheiro. Cada grupo constrói a
partir das suas condições a sua cidade possível.
A gestão das cidades não deve
descartar o olhar sobre a cidade negada e a cidade comprada. É nesta disputa
que vão se configurando os lugares e os territórios, os afrontes sociais e econômicos,
os limites e as cercas, a imobilidade e a mobilidade urbana, a criação e a reinvenção
da cidade.
Neste duelo de interesses antagônicos,
deve nortear o centro da atenção do campo progressista, democrático, popular e
de esquerda, o direito à cidade, num viés de comprometimento com as camadas
populares, o que significa um outro olhar para a construção da cidade, tecida
pela escuta, participação, controle e o
protagonismo social.
O direito à cidade, deve
permitir o direito de decidir sobre a gestão da cidade. O que requer também o direito
à educação sobre a complexidade e a transversalidade da gestão da cidade. Gerir a urbe para o campo alinhado com as
lutas emancipatórias e a democratização da sociedade deve envolver a costura
que permeia a ciência e participação social das camaradas populares.
Essa defesa repulsa a
compreensão de que a gestão da cidade é uma resolutividade do poder executivo e
do legislativo. A compreensão de ofertar a população serviços públicos ou
políticas públicas sem a participação popular é reforçar os mecanismos de dependência
política e do distanciamento da representatividade política de quem desenha, redesenha
e respira a paisagem social e cultural em cada lugar e território da cidade.
As eleições municipais estão
diretamente ligadas ao debate sobre a cidade, entretanto, é negligenciada a
discussão sobre o direito à cidade. Cabe, ocupar esse espaço que coloca em
evidência qual o tipo de narrativa de poder e de sociedade que se pretende
construir.
Entre a cidade negada e a
cidade comprada temos a disputa eleitoral que tem a tipicidade de ter também uma
representatividade política negada e uma representatividade política comprada
que acaba afastando a reflexão sobre o direito à cidade.
Nestas eleições, ocupar o
debate e a representatividade política, tanto no executivo como no legislativo,
é indispensável para acumular forças e construir cidades mais democráticas.
As eleições municipais devem
ser percebidas como termômetro para acumulação de forças do campo democrático,
progressista, popular e de esquerda para derrotar o bolsonarismo, a direita, o
conservadorismo e descontruir a estrutura de poder que vem sendo construída
para retirar direitos e afastar as camadas populares de participar gestão das
cidades.
O bolsonarismo nestas eleições
se esconderá do bolsonarismo, possivelmente, tendo em vista, o desgaste do
governo Bolsonaro. Os Bolsonaristas já
estão instalados nas periferias das cidades, abusando da fé e do poderio econômico,
não nos enganemos, as eleições há tempos já se iniciaram.
As eleições têm demonstrado,
que na maioria das vezes, não são as boas ideias que elegem, os parlamentares e
o poder executivo, essa é uma das características históricas e excludentes do
sistema eleitoral capitalista.
É indispensável a discussão e apropriação
sobre o direito à cidade com capilaridade e base social que possa repercutir em
densidade eleitoral para reconfigurar a representação política e aproximar os
comuns do direito de decidir sobre a cidade.
*Pedagogo, integrante do
Coletivo Camaradas e atual presidente do Conselho Municipal de Políticas
Culturais do Crato.