Alvin recebendo homenagens na Igreja Bola de Neve |
Por Alexandre Lucas*
A política pública não tem
neutralidade, já que é um campo de disputa de narrativa de sociedade. O
cenário, no campo da cultura no país, retrocede na descontinuidade dos inúmeros
avanços e acúmulos de discussão com forte participação social dos diversos
segmentos que compõem o recheado tecido plural e diverso das culturas, artes,
movimentos sociais, pesquisa, inovação e
da tecnologia do povo brasileiro.
Marcos legais, planejamentos e
decisões das conferências nacionais, fóruns de linguagens artísticas e da
tradição popular estão sendo violados,
desprezados e combatidos pelo governo de direita e de caráter fascista de Jair
Bolsonaro.
O desmonte da política pública
no atual governo começa com a extinção do Ministério da Cultura e a sua
transformação num órgão vinculado ao Ministério da “Cidadania”. Ministério que
já nasce com face de Fake News, tendo em vista, que diversos gestores de estado,
incluindo o Presidente da República, já fizeram declarações de combate aos
direitos humanos, apologia ao justicismo, negação dos direitos conquistados na
Constituição de 1988 e defesa de ditaduras militares e torturas.
A Secretaria Especial da Cultura,
órgão que responde pela pasta da cultura, no governo Bolsonarista, transformou-se numa espécie de think tank e agência de
publicidade de Olavo de Carvalho e da Igreja Bola de Neve, organização
religiosa liderada por Rinaldo Seixas
“Apóstolo Rina” , autor do áudio que circulou no país pedindo votos para Jair
Bolsonaro ( que inicialmente foi atribuído
ao padre Marcelo Rossi) e de
combate ao que ele chama de “marxismo cultural”. Termo bastante difundido pelo
Olavistas, que distorce o conceito do
materialismo histórico dialético desenvolvido por Karl Marx, no sentido de
criminalizar e “demonizar” o comunismo e
as pessoas do campo político democrático, progressista, popular e de esquerda. O secretário da pasta, Roberto Alvin,
declarado conservador, é discípulo de Olavo de Carvalho e nas suas redes
sociais, de forma contínua, replica os devaneios e atrocidades do guru da
direita no país. Alvin também é um bolanevista, integra a igreja do Apóstolo
Rina, de forma protagonista.
Essa relação íntima com as
ideias de Olavo de Carvalho, Bolsonaro e a Bola de Neve Church, propiciam o
estilo da política pública para cultura que se mancha e delimita num viés
elitista, excludente, conservador, perseguidor e de retirada de conquistas.
A laicidade do Estado brasileiro
está ameaçada pelo atual governo e aponta caminhos desconhecidos para o caráter
republicano do país. O legado dos Governos Lula e Dilma para a política pública
e a gestão da cultura no Brasil está na forca.
A luta está no campo
ideológico e institucional, não nos enganemos, são bolas de neves, filósofos
de youtube, think tank e interesses
econômicos que estão guiando as viseiras e as rédeas da nova política
devastadora da cultura no país.
Fiquemos em alertar e
combater, pois esse não é o único bola de neve do governo. Existe uma orquestra
ocupando e disputando os espaços de poder governamental e parlamentar, com
pautas claras de retirada de direitos, homogeneização social e conservadorismo.
Sejamos fogo, vem muita bola de neve pela frente.
*Pedagogo, integrante do
Coletivo Camaradas e atual presidente do Conselho Municipal de Políticas
Culturais do Crato.