Por Alexandre Lucas*
A experiência de base comunitária desenvolvida pelo Coletivo Camaradas, na comunidade do Gesso, no Crato-CE, serve como processo permanente de compreensão e reflexão entre a relação arte, público e artista e a dimensão de lugar e território.
O processo de produção e circulação estética e artística não é planificado entre as classes sociais, pelo contrário, assume características excludentes e de estratificação social, nesta contramão conflituosa, a fruição, apropriação e identificação são elementos que transitam entre o estranhamento, acomodação, rejeição e a guetização. A luta pela democratização da arte e do fazer estético compõem a mesma luta pela democratização econômica e intelectual.
Faz-se necessário extinguir a distância entre artista, obra e público. Para as camadas populares, isso representa mais que disponibilizar arte nos lugares e territórios. Exige-se concomitantemente uma apropriação continua dos códigos e a da ampliação da visão social de mundo.
O ato de possibilitar o acesso do ver, ouvir, sentir e participar é indispensável para as camadas populares, pois amplia a compreensão estética e artística, isso subverter a ordem dominante de restrição e elitização da arte, entretanto não é o suficiente.
Arte não se contextualiza a partir da arte, mas a partir da vida. A relação das pessoas com estético e o artístico se dá a partir das relações vivenciais, interacionais, espaciais e econômicas.
Partindo desse pressuposto, os lugares são habitados por narrativas, afetos, conflitos, costumes, diversidade, identidade, recortes de classe, gênero e raça. Umas das questões postas para reflexão é como as pessoas se comportam quando a arte compõe a paisagem cultural dos lugares e quando ela é um corpo estranho aos lugares. Uma ação não invalida a outra, ressinifica ideias, desguetiza, amplia o repertório estético e artístico, instiga o processo criativo e coloca os lugares como espaços de trânsito de pessoas e ideias.
Os lugares compõem os territórios. Esse entendimento fez com que o Coletivo Camaradas atuasse para além da Comunidade do Gesso e percebesse o território e os agentes sociais em que ela está inserida. O Território Criativo do Gesso, como denominamos, é composto pelos bairros Centro, São Miguel, Santa Luzia e Pinto Madeira. Essa compreensão da importância de entender e pautar o território e o lugar como rede de articulação e integração possibilita perceber a vida antes da arte.
Arte, lugar e território é uma costura que se faz necessária para aproximar sujeitos, perceber realidades e construir uma narrativa de sociedade em que a arte não esteja apenas nos lugares, mas que possa compor o processo de emancipação das pessoas que compõem os lugares.
*Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e Presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato.
3 comentários
Clique aqui para comentáriosAs poéticas, narradas na vida do cotidiano de mulheres, homens, meninas e meninos se constituem na Arte que fervilha nas ruas e em todos os rincões. Parabéns! Excelente texto!
ResponderAbraços,
Professora Sislândia.
Delicia de escrita, mais saborosa a leitura. Ontem de passagem só vi o espaço vazio, ainda assim vislumbrei . Perdemos um palco arena no calçadão refesa, que o reconstruamos no espaço do gesso, merecidissimo. Parabéns Menino Bonito, pelo belo trabalho que vens fazendo no barro do chão. Um xêro.
ResponderNecessárias reflexões sobre arte, sujeitos e territórios! 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽❤
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