Por
Alexandre Lucas*
Os lugares são permeados de narrativas, contranarrativas,
identidades, conflitos, estranhamentos, aproximações e de sujeitos e
organizações que atuam nas mais diversas, distintas, contraditórias e antagônicas formas pensar e
construir o mundo. Os lugares não são espaços
neutros e desabitados, carregam uma dimensão simbólica, afetiva e politica,
neste sentido, a arte que é produzida ou que é inserida nos lugares está dentro
deste contexto.
Arte, comunidade e política são elementos para pensar um
fazer artístico que aponte caminhos para
obstruir os circuitos elitizados e fechados que ainda predominam na
contemporaneidade.
Compreender a dimensão que o ultrapassa o fazer estritamente artístico,
quando se pensar em fazer arte nas comunidade/lugares é resinificar a relação
arte-artista/público/lugar. Essa dimensão
se relaciona com a defesa do reconhecimento dos saberes, fazeres e dos sujeitos
que desenham as paisagens sociais e culturais dos lugares. Quando as artes
ganham nos lugares espaços para serem desenvolvidas de forma permanente, modificasse
a forma e a relação entre a arte as pessoas dos lugares, a visão de mundo, a
tolerância, a humanização e o aguçamento
da criatividade.
Essa defesa parte de uma compreensão que vai para além da acessibilidade
da arte, mas que compreende a necessidade da arte como parte da necessidade da
democratização da sociedade, dividida em
classes sociais antagônicas e em constante conflito. Essa premissa está
relacionada diretamente ao processo de produção e circulação da arte no modo de produção capitalista, caracterizado
pela restrição do acesso, estratificação social da arte e pela visão do mercantilismo artístico.
Existem outras opções
de atuar e intervir artisticamente nos lugares. Antes de tudo, qualquer das opções, sejam elas de diálogos, efêmeras ou de invasão nas comunidades, parte de uma decisão política, mesmo para quem nega a política, já que a própria omissão de discutir
ou de participar da vida coletiva já se apresenta como um ato político.
Comungo com a ideia que seja necessário insistir e a reafirmar que somos “socialistas da comunidade”, não precisamos
usar disfarces para tomar posição diante de uma realidade marcada pela
exploração, opressão e exclusão, paralelamente, vamos aprendendo a tomar café com povo, escutar suas histórias,
seus sonhos e as suas descrenças e ao
mesmo tempo defendendo que a arte e
outras áreas do conhecimento gestadas nas
universidades, que as inovações tecnológicas, a urbanização social, emprego, renda e
o direito ao bem viver possam ser compostos do nosso discurso e da nossa prática
e consequentemente que venha compor a
realidade das camadas populares.
*Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do
Conselho Municipal de Politicas Culturais do Crato