O país vivência uma série de
retrocessos no campo das políticas públicas para a cultura. O governo golpista
interrompeu a experiência que começava a  tomar corpo no pais, no que diz respeito a
democratização e  descentralização de
recursos públicos e ampliação da participação social, inclusão e escuta dos
mais plurais e diversos segmentos da cultura.  Estava sendo germinando solos férteis para
experimentação e  redescoberta das
multiplicidades, peculiaridades, heranças 
e hibridismos  que  tecem as paisagens  culturais  do povo brasileiro.   O que nos resta? Construir e reconfigurar as
políticas públicas no país, a partir das cidades. O que indica a necessidade
de  organização, amplitude de
dialogo  e pressão popular. 
Algumas bandeiras devem nortear
uma plataforma que unifique e contemple os diversos segmentos da cultura e que
ao mesmo tempo esteja sintonizada com as lutas mais gerais pela retomada das políticas
públicas  nacionais. 
Pensar a cultura nos municípios exige
mapeamento,  planejamento e definição da
narrativa política que se quer construir. 
A democracia estética, artística e
cultural é um desafio para ser superado no campo   da
política pública para a cultura que tenha viés  popular e que  aglutine os  diversos segmentos que compõe essa diversidade,
o que inclui  as vozes invisibilizadas   e  silenciadas historicamente.  
Neste sentido,  a  luta
pela criação e  consolidação  dos Sistemas Municipais de Cultura,  deve ser o   eixo central da empreitada para retomada de
uma política nacional de descentralização e desburocratização dos recursos públicos
, participação  e vetor para o  desenvolvimento social e econômico do pais. O
que não se dissocia da mesma luta ser empreendida em defesa dos  sistemas estaduais.   
A implantação dos Sistemas
Municipais de Cultura representa para cada município,  uma possibilidade concreta de transformar o
pensar e o  fazer  da política pública para cultura,
ultrapassando às gestões de governos . O aparato desses sistemas municipais
envolvem aspectos jurídicos, políticos, planejamento e de recursos financeiros
que favorecem o processo de consolidação, enquanto, política pública.       
Concomitantemente,
é urgente garantir um percentual para a cultura, nacionalmente é defendido no mínimo
 a aplicação de 1%  da receita liquida do município para a cultura
e 1,5% para os estados e 2% para a união. Essa é uma forma de responsabilizar
judicialmente os gestores públicos que descumprirem a aplicação de recursos,
como já é previsto em outras áreas, como é o caso, por exemplo, da saúde e
educação.  
Outra luta que merece
destaque  é o fomento as politicas
públicas baseadas no “Cultura Viva” que possibilita fomentar  e criar elos de ligação dos sujeitos e suas  organizações como pontos de impulsão, resistência,  produção, circulação e vitalidade  estética,  
artística e cultural da cidade com o mundo. Em cada esquina  existe um ponto de cultura desconhecido.  É preciso dar vazão as experiências de base comunitária
e interligar a outras dimensões do simbólico, como forma de desguetizar ,
potencializar e   garantir a autonomia  e protagonismo dos construtores da
arquitetura de saberes e fazeres numa interligação entre o velho e o novo,  e no que se  pode surgir a partir destas conexões.    
A cidade tem que   criar, readequar, equipar, qualificar e
garantir as condições de funcionamento dos equipamentos culturais, estabelecendo
formas republicanas de ocupação e de protagonismo popular e ao mesmo aproximar
o entendimento que a politica pública para a cultura deve está alinhada a
politica pública para a educação, e neste sentido,  é fundamental reconhecer os espaços escolares
como os principais equipamentos cultuais do município que podem ser verdadeiros
centros de democratização, vivência e experimentação  dos saberes científicos,  populares, estéticos, artísticos e culturais  produzidos historicamente pela humanidade.
Esses espaços também podem ser usados para reproduzir uma cultura opressora,
conservadora e odiosa, por isso a necessidade de disputa de narrativas nestes
equipamentos.    
Por outro lado, a política
pública para a cultura deve ser pensada  como parte estruturante da cidade,  conectando pontos , sujeitos,  ocupação criativa dos lugares,    memória, história, urbanização social e  se constituindo num leque  desenvolvimentista que possibilite a
democratização do simbólico e a geração de renda para o povo. É possível se
pensar nas cidades lúdicas, leitoras, educativas, sustentáveis  e que impulsione novos olhares para o cuidado
com o patrimônio material e imaterial na sua dimensão mais ampla que é a reação
dos seus sujeitos com os espaços. 
Encampar a luta  no âmbito dos municípios , não será tarefa  harmoniosa, mas é uma das estratégias para
acumular forças para a retomada das politicas públicas no país. Precisamos
inverter a logica do “selfie” das políticas institucionais direcionando  para narrativas em os sujeitos e suas
organizações possam protagonizar a redescoberta da diversidade do pais pelo seu
povo. 
*Pedagogo, artista-educador e
integrante do Coletivo Camaradas.