Nós, depois a arquitetura e o urbanismo




Por Alexandre Lucas*

 

A ocupação criativa das cidades deve fomentar o processo de apropriação dos espaços numa perspectiva de criar elos de integração e organização popular.  As relações de identidade e pertencimento com os espaços é o que gesta os lugares. O que requer a devida compreensão de que os espaços não se separam dos sujeitos sociais.

A intervenção urbanística e arquitetônica deve ou deveria sempre considerar a memória, história de ocupação e apropriação dos espaços e as necessidades sociais como elementos centrais para pensar as interferências alinhadas a humanização e a qualidade de vida da população.

Interferir no espaço, é antes que tudo, interferir na dimensão simbólica do sujeito e nas suas demandas sociais.   O que nos coloca diante de refletir  sobre o  direito social à cidade,  ou ainda, o direito de democratização da cidade na suas múltiplas dimensões:  mobilidade, acessibilidade de bens e serviços, ludicidade, segurança, comodidade, imaterialidade e inovação tecnológica como fator de desenvolvimento social.

Esses pressupostos, partem do princípio de que o direito a cidade é negado, a partir do modo de  apropriação privada e antagônica de sociedade, que estratifica socialmente e espacialmente os indivíduos.

É preciso redefinir uma arquitetura e um urbanismo de ocupação e definição pelas camadas populares.  O que só se define a partir do povo organizado e com consciência de classe.  As  linhas desconectadas da arquitetura e do urbanismo gestado nos  escritórios desassociado da pratica social do povo não reflete as necessidades e anseios da população. O viés desta engrenagem não é unicamente técnico, mas essencialmente social.

A arquitetura e o urbanismo da cidade não pode ser um pacote governamental como formula universal para cada lugar ou uma maquiagem para o processo de higienização social.      

As interferências na cidade devem se entrelaçar  com o desenvolvimento social, compreendendo o campo conflituoso entre a produção social e apropriação privada, em outras palavras, a necessária  tomada de posição e de ruptura  da estrutura econômica.

O recorte de classe se faz imprescindível e inseparável deste contexto, considerando que não haverá harmonia e nem desenvolvimento social equiparado numa sociedade desigual e sistemicamente baseada para exploração como mecanismo de sobrevivência do modo de produção capitalista.  

A luta pelo direito à cidade, reveste-se para as camadas populares como uma luta pela democratização econômica  e transformação social que possibilite o pensar os sujeitos, as suas utopias e criatividades,   antes das cercas, asfaltos e concretos.          

 

*Pedagogo, artista/educador e integrante do Coletivo Camaradas

 

 

 
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