Por Alexandre Lucas*
Nada sei de música, mas sei do
Cariri, sei das suas diversidades e dos seus engasgos, dos seus contrastes e hibridismos
estéticos e artísticos. Portanto escrevo uma carta de paz para um cariri de arte.
Falar de música seria pra mim no
mínimo vacilante! Não vou falar de música! Vou falar de trabalhadores e
trabalhadoras, que usam a sonoridade para aguçar a simbologia de um Cariri plural e encantado e que ao mesmo
tempo tentam sobreviver da sua criatividade. Não é fácil!
Quando penso em música no Cariri
me vem um conceito de arte que carrego como viés de consciência política que é
o direito à diversidade estética e artística, bem com o direito de criar,
expressar e discordar. Particularmente não me entrego aos discursos da chamada
musica boa ou da curadoria, pois acredito que isso pode excluir, inibir e criar
barreiras que ultrapassam o campo das artes e que dizem respeito ao reforço de estigmas e preconceitos.
É crescente a diversidade musical
no Cariri e a tendência é um aumento significativo de músicos e de eventos
ligados a música, tendo em vista, o campo de formação na área, como é caso do curso de Música da Universidade Federal do Cariri, os cursos
das Escolas Profissionalizantes e diversas outras formações e ações
que vem acontecendo na Região.
Então a região aponta uma
demanda: música. O que envolve espaços
para circulação, estruturação dos equipamentos públicos, formação de plateia,
retomada dos eventos ligados a música que atenda financeiramente a produção local,
criação de elos de intercâmbio justo e reserva de recursos para política de
cachês e editais para fomento, formação,
produção e circulação. Isso não é tarefa fácil, nem se resolve com uma canetada ou simplesmente pela boa intenção de uma
gestão.
Mas só consigo enxerga esse
cenário a partir da própria organização e mobilização dos artistas do segmento
musical. Ora, quem mastiga o dia-a-dia musical é quem sabe dos seus gargalos,
das suas necessidades e dos seus transtornos.
O mês de novembro na cidade do Crato
apontou um caminho, não sei se a solução, os músicos emanados da necessidade de
ver as coisas acontecerem e com um sentimento de colaboração realizaram por
quatro dias, O Movimento da Independente de Música Cariri – MIMC, que serviu como foco de resistência musical,
uma guerrilha musical, em que a musica
virou instrumento de esperança e protesto, várias bandas e cerca de 50 músicos
se organizaram em menos de dois dias para demonstrar o caráter diverso da
musica cariri que se renova com uma juventude que se instiga no passado e no
contemporâneo para dá uma nova roupagem a nossa musicalidade.
Basicamente, esse movimento
conseguiu com o Governo Municipal do Crato Som e Luz, isso foi o suficiente
para demonstrar a capacidade de produção e articulação desses guerrilheiros das artes do Cariri. O mais
importante foi perceber que eles têm o que falar, o que argumentar, o que
dialogar e isso precisar ser compreendido não como um insulto, uma oposição, mas
pelo contrário como um desejo constante de dialogo e de ver florir no Cariri,
mas opções, mais canais de sobrevivência.
Vale ressaltar que esse movimento
fez isso de forma gratuita, sem receber
cachês, não por entenderem que os seus trabalhos devam ser voluntários, mas
possivelmente, por compreenderem que esse movimento tinha um objetivo. Particularmente,
acho que esse objetivo foi anunciar que eles existem e há muito tempo vem
produzindo no Cariri.
Entender esse Movimento de forma
respeitosa e independente é um caminho de dialogo. Entender esse movimento de
forma inclusiva e com posicionamento próprio e não bajulador é essencial para
avançar! Como diz o músico Lifanco aqui tem “a arte que brota das mãos guerrilheiras”.
Uma das idealizadoras do MIMC,
Janinha Brito, destaca “o sentimento entre nós músicos que participamos do
movimento é de muita satisfação, mesmo com apenas 24 horas pra nos organizar,
reunimos muitos nomes, a energia era de engajamento e harmonia, torcemos para
que esse seja apenas o primeiro de muitos momentos da nossa música, em favor
dela e por ela!”
Acho que a cantora Fatinha Gomes
tem razão quando afirma “esse movimento musical tem sua legitimidade, autonomia,
poder político,sensibilidade e tem garra para perdurar! A música autoral pede passagem,a diversidade
pede passagem, as releituras e tendências mil da música Cariri pedem passagem!”
Saudações a nova geração de músicos
do Cariri. Que o movimento se movimente!
*Pedagogo, artista/educador e integrante do Coletivo Camaradas
Ver fotos do MINC: http://www.culturanocariri.blogspot.com.br/2013/11/quem-emocionou-galera-no-mimc.html