O Cariri é
encantado pelas formas e conteúdos que se mesclam e refazem na cultura. Um novelo de muitas mãos que se tecem entre tradições e traduções. Uma mistura que
tende a desconstruir as raízes separatistas
entre o dito erudito e popular. O Cariri
que se orgulha de ser território simbólico de pensares e fazeres estéticos e artísticos
diversos e plurais.
Esse Cariri que é um estado espiritual que agrega no seu povo
um sentimento de identidade e pertencimento a esse território, possivelmente
pela sua efervescência cultural e pelos constantes processos de organização para enchê-lo e embrulhá-lo de criatividade.
Território de artistas, guerrilheiros de várias trincheiras
das artes. A história tem demonstrando que
aqui o povo que se une e faz, que se multiplica e que se universaliza. Aqui é
um espaço de trocas, de intercâmbios, de simplicidade e sofisticação, alegrias
e de lutas. Aqui como em qualquer outra parte existe gente que não dorme que
produz saberes tão ancestrais quanto contemporâneos. Aqui existe uma espécie de
código entre os artistas baseado na escuta e no respeito, no auxílio e na colaboração,
produzimos juntos ou separados, temos a tendência em respeitar as ideias
estéticas e artistas do outro, mesmo quando não é do nosso agrado.
Apesar de toda essa efervescência ainda são restritas as
condições dadas aos artistas para fazerem circular as suas diversas linguagens
artísticas, faltam espaços e fomento. Apesar de nos últimos anos ter crescido
as políticas públicas neste setor.
Então, não é de se entranhar, é ainda coisa bem Cariri, ver
artista lutar. Lutar pra poder comer da
sua criatividade. Afinal, não encaramos arte como lazer, mas como trabalho que
exige dedicação, estudo, produção e tempo. Lógico que isso implica em
sobrevivência. Não estamos mais no período em que artista precisava divulgar o
seu trabalho, esse foi por muito tempo o
discurso das elites para os artistas populares. Estamos em outro nível de
compreensão.
Imagine só a sobrevivência financeira dos artistas sendo atacada. Não dá pra bancar o artista feliz. Artista
faz tudo e gasta também com tudo, igualzinho as outras pessoas.
Então os artistas não reclamam gratuitamente, provavelmente
reclamem por “liseira” mesmo. Isso é
subjetivo e complexo, mas precisa ser compreendido e essa demanda precisa ser
atendida. O que não é tão simples, o que muitas vezes não depende de uma caneta
ou palavra.
E aí o que nos resta? Não acredito que tenhamos que aprender a receita do bolo, mas tenho
plena convicção de que precisamos ser um grande bolo de luta unido. É mais
fácil de ser ouvido e atendido.
No Cariri aprendemos assim: Resistindo e persistindo...nos
unindo e fazendo arte. No Cariri nos unimos dentro das histórias, visualidades,
sonoridades e vivências do nosso povo, que é acima de tudo acolhedor, criativo,
insubmisso, híbrido e universal.
É lamentável quando percebemos que algo nocivo tenta se
orquestrar no nosso território para nos digladiarmos, para fazermos trincheiras
de enfrentamento entre nós mesmos. Não comungo com essa maquiavélica destilação
de veneno e posturas de santidade. Não
faça isso, não merecemos!
Tenho visto discursos irresponsáveis sendo jorrados nas redes
sociais nos últimos meses que precisam ser combatidos, alguns se arrastam pelos
esconderijos das caixas de mensagens dos facebooks e outros se utilizam de “máscaras
caídas” para adentrar com suas presas na
alma do nosso povo.
O discurso do ódio não nos multiplica. O discurso do ódio não
nos faz Cariri. O discurso do ódio não nos interessa. Apesar de acreditar que
ele deve servir aos interesses de alguém. Artistas do Cariri, unidade. Isso sempre nos
interessou muito mais
*Pedagogo, artista/educador e integrante do Coletivo
Camaradas.