Artistas: O discurso do ódio não nos interessa

Por Alexandre Lucas*

O Cariri é encantado pelas formas e conteúdos que se mesclam e refazem na cultura.  Um novelo de muitas mãos que se tecem  entre tradições e traduções. Uma mistura que tende a desconstruir  as raízes separatistas entre o dito erudito e popular.  O Cariri que se orgulha de ser território simbólico de pensares e fazeres estéticos e artísticos diversos e plurais.

Esse Cariri que é um estado espiritual que agrega no seu povo um sentimento de identidade e pertencimento a esse território, possivelmente pela sua efervescência cultural e pelos constantes processos de organização  para enchê-lo e embrulhá-lo de criatividade.

Território de artistas, guerrilheiros de várias trincheiras das artes.  A história tem demonstrando que aqui o povo que se une e faz, que se multiplica e que se universaliza. Aqui é um espaço de trocas, de intercâmbios, de simplicidade e sofisticação, alegrias e de lutas. Aqui como em qualquer outra parte existe gente que não dorme que produz saberes tão ancestrais quanto contemporâneos. Aqui existe uma espécie de código entre os artistas baseado na escuta e no respeito, no auxílio e na colaboração, produzimos juntos ou separados, temos a tendência em respeitar as ideias estéticas e artistas do outro, mesmo quando não é do nosso agrado.

Apesar de toda essa efervescência ainda são restritas as condições dadas aos artistas para fazerem circular as suas diversas linguagens artísticas, faltam espaços e fomento. Apesar de nos últimos anos ter crescido as políticas públicas neste setor.

Então, não é de se entranhar, é ainda coisa bem Cariri, ver artista lutar.  Lutar pra poder comer da sua criatividade. Afinal, não encaramos arte como lazer, mas como trabalho que exige dedicação, estudo, produção e tempo. Lógico que isso implica em sobrevivência. Não estamos mais no período em que artista precisava divulgar o seu trabalho, esse foi por muito tempo  o discurso das elites para os artistas populares. Estamos em outro nível de compreensão.

Imagine só a sobrevivência financeira dos artistas sendo  atacada. Não dá pra bancar o artista feliz. Artista faz tudo e gasta também com tudo, igualzinho as outras pessoas.

Então os artistas não reclamam gratuitamente, provavelmente reclamem por “liseira”  mesmo. Isso é subjetivo e complexo, mas precisa ser compreendido e essa demanda precisa ser atendida. O que não é tão simples, o que muitas vezes não depende de uma caneta ou palavra.

E aí o que nos resta? Não acredito que tenhamos  que aprender a receita do bolo, mas tenho plena convicção de que precisamos ser um grande bolo de luta unido. É mais fácil de ser ouvido e atendido.

No Cariri aprendemos assim: Resistindo e persistindo...nos unindo e fazendo arte. No  Cariri  nos unimos dentro das histórias, visualidades, sonoridades e vivências do nosso povo, que é acima de tudo acolhedor, criativo, insubmisso, híbrido e universal.

É lamentável quando percebemos que algo nocivo tenta se orquestrar no nosso território para nos digladiarmos, para fazermos trincheiras de enfrentamento entre nós mesmos. Não comungo com essa maquiavélica destilação de veneno e posturas de santidade.  Não faça isso, não merecemos!

Tenho visto discursos irresponsáveis sendo jorrados nas redes sociais nos últimos meses que precisam ser combatidos, alguns se arrastam pelos esconderijos das caixas de mensagens dos facebooks e outros se utilizam de “máscaras caídas” para adentrar com suas presas  na alma do nosso povo.

O discurso do ódio não nos multiplica. O discurso do ódio não nos faz Cariri. O discurso do ódio não nos interessa. Apesar de acreditar que ele deve servir aos   interesses de alguém.  Artistas do Cariri, unidade. Isso sempre nos interessou muito mais      

*Pedagogo, artista/educador e integrante do Coletivo Camaradas.                       

 
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