Por Alexandre Lucas*
A cultura pode ser uma grande besteira para
muita gente, a quem ache que a cultura pode ser também um bom negócio, outros
acham que uns tem cultura e outros não, e ainda existem aquelas pessoas que
acreditam que quase tudo pode ser cultura, inclusive: o estupro, a violência contra
negros e pobres e a negação dos direitos humanos.
Estou entre essas pessoas que
acham que quase tudo pode ser cultura. De inicio afirmo que a cultura pode ser
algo degenerativo, violento e assassino. Essa compreensão serve para confrontar
a ideia predominante de que a cultura é algo bom e, por conseguinte imparcial.
Discordo frontalmente que a
cultura seja neutra. Numa sociedade dividida em classes sociais distintas e antagônicas
e em permanente conflito, a cultura tem uma feição plural, estratificada e hibrida,
que conjuga a dicotomia entre o calar e rebelar, dominar e resistir, esconder e
descobrir, separar e juntar, oprimir e emancipar.
Podemos afirmar que a luta pelo
poder, das distintas classes sociais, tanto a que luta para se manter e a que
busca tomar o poder, disputam também uma narrativa cultural de sociedade e esse
é um fator necessitário que precisamos vasculhar para destrinchar os mecanismos
ideológicos utilizados pelas elites econômicas para produção, acumulação e
reprodução do capital. No capitalismo, o
olhar para cultura não se desvincula do capital e das suas formas ideológicas de
manutenção.
A restrição e simplificação do
produto artístico e estético disponibilizado em grande escala para as camadas
populares, é uma característica do formato da industrial cultural, montada
dentro das estruturas de comunicação de massa mantidas pelas elites econômicas
que servem para gerar dinheiro e ao mesmo tempo reproduzir os valores de
manutenção da classe dominante.
No campo da defesa da
democratização da diversidade simbólica da sociedade, se faz imprescindível, a
leitura critica e a tomada de posição diante do reconhecimento da
imparcialidade da cultura. Todos os
ingredientes dentro do mesmo caldeirão podem azedar, mas também podem recriar
novos saberes, sabores e fazeres que edifiquem um novo tipo de sociedade, mas
isso é apenas conjectura.
A luta pela democratização da
sociedade se compõe da mesma pela luta pela disputa da narrativa cultural que
se quer construir. A defesa do direito ao pão e a moradia, da escola que democratiza
o conhecimento e da à universalização do atendimento da saúde deve ser permeada
também no combate a cultura que violenta, excluir, desqualifica e assassina a
esperança dos explorados e oprimidos.
Esse é o tempo em que novamente o
discurso do ódio sai do armário, conservadores e reacionários avançam com parte
dos segmentos dos militares, religiosos e com as mais diversas tecnologias e mídias
para disseminar as suas “culturas capitais”, que estão a serviço do silenciamento
e do afastamento da classe trabalhadora dos espaços de poder. A cultura é parte central desta luta e ela se
condensa no campo da ocupação do espaço politico e de narrativa, desmonte das
estruturas de poder da centralização da comunicação e da afirmação de uma construção
simbólica que abasteça os sonhos para edificação uma sociedade emancipada e
socialmente justa.
*Pedagogo, artista/educador e
integrante do Coletivo Camaradas.
1 comentários:
Clique aqui para comentáriosMuito bom,precisamos sim definir e valorizar nossa cultura todo o tempo, para que desta maneira ténhamos melhor qualidade de vida!!!!um abraço