Malhação do Judas da Comunidade do Gesso - Crato/CE Foto: Alexandre Lucas |
Por Alexandre Lucas*
O povo produz arte, se reproduz e se reinventa na cultura, cria suas
formas de organização, fruição e circulação da diversidade da sua produção
estética, artística e cultural, elementos intimamente humanos e exigidos como
necessidade social.
Arte e a cultura surgem e se
hibridam cotidianamente. Independente de autorização, patente, dinheiro ou autorização
institucional. Seria ingenuidade acreditar que a produção simbólica acontece a partir
do apoio institucional, a lógica é certamente inversa, o poder institucional atua no campo
da cultura e das artes por existir uma
produção e organização que precede as instituições.
Quando pensamos em arte e nas suas formas de acomodação, modismo, ruptura
e tradição estamos nos remetendo a circuitos construídos das mais diversas
formas, a partir da organização do povo seja através de seus coletivos, grupos de representação ou parcerias momentâneas.
Com esse entendimento, podemos concluir
que a produção simbólica existe independente do aporte do poder público. Basta perceber
quantas ações são realizadas de forma independente, nas garagens, terreiros,
ruas, praças, vielas, campos de várzeas e espaços improvisados.
No campo popular e progressista as políticas públicas para a cultura
devem ter com bússola o reconhecimento das formas de organização do povo, como princípio
para autonomia e o empoderamento social.
As formas de fazer arte e a cultura são do povo. Portanto, interferi
neste processo para patenteá-lo institucionalmente é fragilizar a perspectiva
do fortalecimento das políticas públicas de caráter emancipatória.
Nos últimos anos vem sendo ensaiado no Brasil, um experiência
progressista no campo das políticas públicas para a cultura, apesar dos seus
avanços e recuos, o Cultura Viva, que após lutas impulsionadas por redes dos
movimentos sociais da cultura se tornou política de estado representa uma das
grandes conquistas para o processo de
descentralização de recursos, fortalecimento das relações em redes, fomento, fruição
e circulação, bem como empoderamento político, tecnológico e financeiro.
O Cultura Viva, sai do campo do discurso tecnicista para avançar na
dimensão política da cultura, apesar dos tramites da burocracia governamental,
existe compreensão de reconhecer as iniciativas que constituem a epiderme e as
teias da cultura brasileira de forma a potencializar a autonomia política dos
grupos, dos artistas e dos produtores.
Negar, omitir e desconhecer o protagonismo daqueles que nas piores
condições mantém viva a resistência da diversidade artística e cultural de um
povo é embrutecer ainda mais os caminhos. O Cultura Viva enquanto política de
estado e no seu arcabouço teórico é um instrumento para reflexão dos que
desejam institucionalizar e patentear a
produção simbólica de um povo e de seus agentes sociais. A produção simbólica
existirá independente de qualquer poder constituído do Estado.
*Pedagogo, artista/educador e coordenador do Coletivo Camaradas