Por Keila Almeida Gonçalves*
Dentre todas as características da Arte Contemporânea, a
interação entre a obra, o espectador (observador) e o artista se destaca,
portanto, subjetividade, experimentação e interação são fundamentos essenciais
desse movimento. Dentro disso, o lugar do espectador
diante da obra é alterado (o que já fora iniciado na Arte Moderna), deslocando-se
do campo de espectador para o de observador participante. Nesse contexto, a
interação desse sujeito com o objeto artístico exige uma nova forma de ver e
pensar a arte, requerendo reflexão e experimentação contínua daquilo que é
observado.
Na Arte Contemporânea, portanto, há outros tipos de relações
interativas que irão integrar-se na construção da significação da arte, a ponto
das interações se processarem de fato e com ocorrências variadas a partir da
participação do observador, seja na fruição ou no processo de feitura da obra, isto
é, o objeto artístico não encontra-se finalizado, mas constrói-se numa dinâmica
e organicidade contínua a partir da relação entre os elementos e sujeitos que
atravessam a obra.
Nesse sentido, há
dispositivos que surgem do intuito de potencializar essas experimentações. Como
tal, poderão
ser concebidos como o instrumento do devir, instituído com o propósito de ativar
a experimentação, com vias à interação entre os sujeitos
(observador/espectador), o objeto artístico e o espaço. Assim, interação é uma
nova forma de ver a arte, é a subjetividade, a reflexão e a experimentação.
Entretanto, efetivar o principal objetivo dos
dispositivos de interação pode ser considerado um grande desafio, sobretudo,
quando considerada sua demasia em contraste com a autonomia do observador. Assim,
ao visitar um museu, encontramos diversos dispositivos, dentre estes,
identificamos a prática de mediação, a organização/estruturação do espaço, que
conta com a curadoria, as reflexões de personagens como o crítico de arte e
demais personagens tecnicistas, que se apresentam por meio dos materiais
bibliográficos, entre outros. Percebe-se ainda a fotografia, que registra,
preserva e possui sua própria linguagem artística, mas, no entanto, também
media (positiva ou negativamente) a experimentação. Com um click possuímos a
documentação da obra, mas será que permitimos experimentá-la naquele momento?
As ações do Instituto Cultural Inhotim, Centro de Arte
Contemporânea e maior museu de arte a céu aberto, que fica localizado no
município de Brumadinho, estado de Minas Gerais e aqui denominado por “lugar
Inhotim”, visam à promoção e o fortalecimento do município, com atividades
culturais e educativas junto aos artesãos, hoteleiros, escolas, ONG´s
(Organizações Não governamentais) e afins.
Nesse “lugar”, é possível encontrar a presença marcante
dos dispositivos de interação presentes na Arte Contemporânea e na museologia
social. Esse lugar se refere a um conjunto de signos, símbolos, trocas,
identidades, histórias de vida, narrativas, lembranças/memórias afetivas e
imaginárias. Logo, o “lugar Inhotim” representa um universo condensado de
experiências, que por si só já expressa vivências e paralelamente indica
dispositivos de interação. Contudo, o que mais sobressai nesse lugar é a relação
entre a paisagem e a arte, que de forma antagônica afasta e aproxima o
observador da obra e do fazer museal, revelando uma possível contradição na
interação. Enquanto as instalações e demais obras afetam, produzindo
estranhamento e inquietação, os jardins produzem pausa, sendo que poderão ou
não aquietar o processo de experimentação.
Em seu conjunto de dispositivos o “lugar
Inhotim” traduz a realidade no contexto brasileiro, onde encontra-se uma
pluralidade de elementos que surgem para potencializar a experimentação.
Entretanto, conforme exposto, tal lugar possui suas especificidades. Para além
disso, nos guia numa reflexão acerca do excesso de dispositivos, pois “em que
medida esses dispositivos impulsionam a experimentação e não a limitam”, uma
vez que mediam a relação entre a obra e o observador. Nesse sentido, não
negamos suas potencialidades, antes, identificamos seu antagonismo, que
perpassa fragilidade e potencialidade. Por fim, a pergunta que segue é como
pensar na efetivação dos dispositivos, sem desconsiderar o próprio processo
individual de fruição e construção do objeto artístico, promovendo uma arte cada
vez mais participativa.
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Resumo do artigo apresentado
no III Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura, ocorrido em outubro, na
cidade de Crato/Ceará.
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*Mestranda em Artes Plásticas,
Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: keiladoc@gmail.com