A rede não tem dono: Pensando as articulações entre coletivos

Por Alexandre Lucas*

Os coletivos ganham formatos e atuações diferentes e se caracterizam por particularidades políticas, estéticas, artísticas e tecnológicas. Isso acarreta novos processos e dinâmicas aos movimentos sociais.
Se os movimentos sociais se caracterizavam a partir da analise da relação  trabalho – capital e luta de classes, na contemporaneidade, os coletivos ganham conotações mais complexas e novas formas de diálogos caracterizadas por parcerias momentâneas, descentralização de ações, dialogo plural,  horizontalidade de debate, uso da internet e outras ferramentas de comunicação. O que não significa negar a luta de classes dentro da contemporaneidade, nem a disputa dos espaços políticos.  

Por lado, o entendimento sobre as articulações políticas entre os coletivos difere da compreensão de hegemonia  política, como ocorre nos sindicatos e no movimento estudantil, em que as forças políticas disputam as direções destas organizações. 

Diferentemente, dos sindicatos e do movimento estudantil, os coletivos são criados por pessoas que tem afinidades nos seus pensares e fazeres, o que já caracteriza uma peculiaridade no campo das relações politicas. Não sendo, portanto, espaço de disputa de direção, até mesmo porque o processo de gestão dos coletivos se dão normalmente pelas  relações de vivência, afinidade e horizontalidade.

A hegemonia política ocorre numa outra perspectiva, ou seja, dentro do processo de ocupação dos espaços e das ideias, sem ocupação das gestões dos coletivos. O que nos remete ao entendimento de que os  processos de articulações entre coletivos e das redes de coletivos se baseiam numa pedagogia de dialogo e concessões,  colaboração, descentralização,   empoderamento coletivo e escuta das vozes destoantes como pratica política e educativa.    

A compreensão de subverter essa lógica, visando uma hegemonia política de direção tende a acarretar isolamentos políticos, discurso único, intolerância as vozes dissonantes, bem como não contribui para uma analise mais aprofundada da realidade e para avanços nas conquistas pontuais dos movimentos sociais.

Reconhecer as redes e articulações entre os coletivos e atuar nelas é imergir dentro de um universo múltiplo em que o discurso único é incabível, bem como a ideia de representação de categorias ou de grupos.  

Cada coletivo é um universo e o conjunto de organizações atuando em rede pode ser uma escola democrática e autônoma de formação política, estética e artística baseada na colaboração, potencialização de ações, identidades, respeito à pluralidade de ideias.   

Atuar em rede é como escutar uma criança e tentar entende-la, sem necessariamente concordar com as suas posições. Cada coletivo é essa criança que precisa ser escutada que crescer e amadurece se embolando nas teias e vozes diversas, colaborativas, divergentes e fraternas.


*artista/educador, coordenador do Coletivo Camaradas.    
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