Por Alysson Amancio*
A pergunta que
intitula este texto pode ter dois tons: de curiosidade e anseio por uma
resposta significativa, mas também pode ser de ironia como se o emissor nas
entrelinhas já estivesse dizendo que o cariri cearense não precisa de um curso
superior de dança visto que em Fortaleza já tem. Pois bem, mesmo sem ninguém me
fazer este questionamento, eu respondo e grito aos quatro cantos do Brasil: “O
Cariri precisa sim de uma faculdade de dança!” E os motivos são inúmeros, vou
elencar alguns poucos, mas que justificam e muito a implementação deste curso.
A dança no
Cariri vem crescendo aceleradamente nos últimos anos, não somos mais
reconhecidos apenas pela cultura popular. Hoje em Juazeiro do Norte temos a
Associação Dança Cariri, nove escolas de ensino não formais, 07 companhias
profissionais, 23 grupos amadores, 06 grandes quadrilhas juninas, dezenas de
professores nas escolas de ensino formal e centenas de estudantes. Em 2012, num
projeto de mapeamento financiado pelo edital de Incentivo as Artes do Governo
do Estado foram cadastradas 1865 pessoas ligadas a dança no município de Juazeiro. E o Cariri não é só Juazeiro do Norte são trinta e sete cidades.
A cada dia
encontro novos professores e alunos de dança também nas ONGs e nos bairros
periféricos, todos ávidos e apaixonados por dança, mas que lamentavelmente
ainda trabalham de forma equivocada, pois os cursos livres de formação que
existem não dão conta de atender a demanda desta região. É preciso urgentemente
formar estes professores, fortalecer as atividades docentes e artísticas que
eles já exercem e ao mesmo tempo ampliar os leques de suas
potencialidades. Além disso, a sociedade
caririense ainda não entende que dança é profissão, não compreende que é uma
área de conhecimento e uma linguagem artística importante para a transformação
do ser humano.
Já temos em
Juazeiro do Norte, curso de música na UFC- Cariri e Artes Visuais e Teatro na
URCA. Dança é a única linguagem da arte que não foi ainda contemplada. Por quê?
Porque temos que ir para Fortaleza, Recife, Salvador ou qualquer outra cidade
para termos nossa formação? E quem não tem condições financeiras de ir embora,
desiste, não sonha, não dança.
Sou professor
universitário e sei que a Universidade não é a única forma de ver e ser do
mundo, mas é irrefutável o quanto ela colabora para o amadurecimento do
estudante através do ensino, pesquisa e extensão. Vou fazer minhas as palavras
de Wosniak “É no universo acadêmico da dança que aluno poderá ampliar seus
conhecimentos na área: refletir,
questionar, criticar, pesquisar, documentar as possibilidades da dança em seu
contexto histórico local, regional, nacional ou internacional, criar, conhecer
novas possibilidades de movimento, de diferentes tecnologias aplicadas a dança
e as artes, trocar experiências com alunos de outros cursos ou áreas afins,
compreender sua atuação como profissional da dança e cidadão consciente na
educação e na sociedade. As graduações em dança formam mais do que o bailarino.
Formam o pesquisador, o professor, o criador, formam o bailarino que pensa”.
*Professor, Bailarino e Coreógrafo
alyssonamancio@hotmail.com