Intervenção com lambe-lambe do Coletivo Camaradas idealizada pelo artivista Ricardo Alves |
Por Alexandre Lucas*
Indiscutivelmente os centros
das cidades são locais de grande fluxo de pessoas por concentrarem as demandas
de serviço e comércio, sendo alvo
privilegiado da tirania comercial da publicidade que de forma desastrosa
e criminosa vem destruindo o patrimônio arquitetônico e poluindo visualmente as
cidades.
As fechadas dos prédios vão
sendo tomadas por gigantescas placas como se quisesse sinalizar que quanto
maior a placa melhor o produto ou algo similar.
Esse fator contribui significativamente para apagar a memória e a
temporalidade arquitetônica e favorece para o esvaziamento das relações de
identidade e pertencimento da cidade.
Os lambe-lambes comerciais,
cartazes de diversos tamanhos afixados
com cola, agridem a visão e o patrimônio público e privado das cidades. Nada
parece escapar dos lambe-lambes comerciais: paredes, postes, telefones
públicos, tapumes de construções, abrigos de paradas de transportes coletivos, lixeiras
e árvores são alvejados diuturnamente. Os cartazes divulgam produtos e serviços,
os mais variados: jogos de búzios, festas, cursos, anúncios de empregos e
ofertas de produtos.
É preciso repensar
visualmente os espaços urbanos a partir de outra lógica. A partir do combater
frontal a poluição visual e a destruição do patrimônio arquitetônico e por
outro lado incluir no cardápio visual da população outros elementos que considerem
a relação inseparável e “desestática” da arquitetura, urbanismo e das pessoas.
O que abre leque para
reconhecer a cidade como galeria aberta para a arte urbana. O espaço urbano é
um dos locais privilegiados para pensar a experimentação e circulação das artes
visuais como forma de tornar acessível à produção artística para o grande
público, tendo em vista, que é o lugar de trânsito da população e que interfere
na relação/fruição das pessoas no sentido de repensar formas, conteúdos, realidades sociais e criar
relações de pertencimento e de identidade.
A arte urbana é vista como um trabalho social, um ramo da produção da cidade, expondo e materializando suas conflitantes relações
sociais. O que aponta para uma questão essencial que
deve ser perseguida pelas gestões públicas que é a garantia da liberdade da
diversidade estética e artística da arte urbana que incluir trabalhos de
caráter permanentes, como efêmeros.
Pautar essa é questão está
na ordem do dia. As casas legislativas municipais devem ser sacudidas para essa reflexão e
provocar um grande debate com a sociedade para que possam ser pensados
instrumentos jurídicos que assegurem
salvaguarda do nosso patrimônio arquitetônico e que as cidades possam
ser compreendidas como grandes galerias
abertas para arte urbana.
*Pedagogo e artista/educador,
atualmente coordena a Célula de Artes Visuais da Secretaria de Cultura do
Crato.