Por Alexandre Lucas*
Nos últimos anos é crescente a multiplicidade de coletivos de
ativismo político e de atuações artísticas na região do Cariri/CE, que de forma
coletiva ou individualizada dialogam/divergem, planejam e executam ações que
reverberam conjunturas políticas nacionais e sinalizam os pensares e as
produções da arte na contemporaneidade.
Uma das características dos Coletivos é serem agrupamentos
pequenos que se unem a partir de bandeiras políticas ou conceitos artístico-estéticos
e na maioria dos casos não visam se tornarem representantes de grupos, apesar
de defenderem causas de vários grupos.
Os coletivos não são invenções da contemporaneidade, a
história da humanidade nos apresenta uma
série de formas de organizações políticas e artísticas que serviram com instrumento de defesa de
grupos e de causas. Entretanto, vale ressaltar que os processos organizativos destes novos agrupamentos mantém
uma forte ligação com os recursos tecnológicos que se tornaram orgânicos na
vida contemporânea, como os telefones moveis, a internet e as maquinas de registro de imagem.
No Brasil é crescente o numero de coletivos e de redes que vem sendo criadas, isso possibilita a
diversidade de olhares e a
descentralização geográfica de ações e de formas colaborativas de atuação
política e organizativa.
Entretanto, existe uma tendência, dentro destes
coletivos, que a meu ver precisam ser
refletidas e contextualizadas, que é de muitas vezes negar a existência e a importância
de outras formatos de organização como os partidos políticos, os sindicatos e
outras estruturas similares. Até mesmo, no sentido de não esvaziar ou
fortalecer o discurso do movimento pelo movimento e aniquilar um projeto de nação
ou de uma sociedade de novo tipo.
Por outro lado, é indispensável reconhecer a importância dos
Coletivos como forças aglutinadoras de opinião e de poder midiático, a partir
de estratégias da comunicação social e da arte que se reverberam nas ruas e nas
redes sociais, como forma de se contrapor ao monopólio da comunicação brasileira que representam os
interesses de uma elite econômica e que se fecham para as demandas políticas
dos movimentos sociais.
No Cariri, esses coletivos vêm dando o tom e a cor das
discussões, apesar de muitas vezes não participarem da vida real dos movimentos
sociais. O que não retira o mérito da atuação política, mesmo que atuem esporadicamente,
ou com, configuração espontânea ou “causadista”.
Dentre os coletivos que atuam no Cariri tem Os Camaradas, Bando, Café com Gelo, Xicra,
Femica, Diverso, Pé no Mundo, Rede de Cultura do Cariri, Desmascarado,
Converso, Quadrilha Fotográfica, Paje, Caravelas, Pia, CUCA, dentre outros,
inclusive forças políticas que atuam dentro do Movimento Estudantil, além de organizações
que tem um trabalho mais no campos artístico ou institucional, as quais também
desenvolvem ações em conjunto com os coletivos.
Esse fator apontar uma nova reconfiguração territorial e
comunicacional dos movimentos sociais, que demonstra, por exemplo, o desuso da
palavra interior para a região metropolitana do Cariri, interior entendido grotescamente
como lugar “atrasado e de pouca informação”. O Cariri é um exemplo da novíssima cartografia
dos movimentos sociais da atualidade que dialogam horizontalmente dentre de
plataformas virtuais e presenciais, estreitando as barreiras físicas que vão sendo
substituídas por ações de guerrilhas em todo o território nacional e mantendo as
interligações das questões locais com as
mais gerais.
As condições reais estão postas para reflexão dos movimentos
sociais e não podem ser negadas. Os Coletivos fazem parte também da esfera dos
Movimentos Sociais e não podem ser vistos como forças paralelas, comparado aos
formatos tradicionais de luta do nosso povo e vice-versa.
*Pedagogo, Artista/educador e militante dos Movimentos
Sociais.