À Casa Verde da Praça da Sé! (in memorian)



Uma casa é local de muitos significados para nós! Ela guarda a memória de indivíduos, de uma família, de determinada cidade. Nela contém um patrimônio histórico e artístico que representa uma comunidade cultural!

A cultura é um elo que une todos, constrói identidade que nos faz pertencer a esse agrupamento maior, social, nos retirando de um mundo particular, individual para o coletivo! Pois bem... inicio assim para falar de uma singular casa com fachada em cores verde e branca no estilo neoclássico. Ficava na Praça da Sé, do lado direito da Catedral de Nossa Senhora da Penha.  Uma das poucas que mantinha na fachada o percurso de uma história da cidade do Crato. História que se faz visível em seu patrimônio arquitetônico.

Podemos ter conhecimento da história do Cariri através dos documentos e livros, também através dos relatos de seus habitantes. Entretanto, para a observarmos, sentir sua presença imediata, seus cheiros, seus gostos e preferências estéticas, se quisermos comprovar mesmo o que lemos nos textos históricos... somente podemos fazê-lo através das habitações, de sua gastronomia, tradições artísticas, que é o seu patrimônio. Em suas muitas manifestações culturais, que por repetidas vezes, não damos seu devido valor. Quero assim chamar à atenção para a importância com que devemos tratar o que nos resta da história de nossos bisavós, avós, pais...  do que está também em nós mesmos.

Escuto, constantemente, a justificativa de que o proprietário, o Dono... tem o direito ao seu gosto, se quiser uma reforma com fachada em cerâmica modular e granito, com desenho em formas geométricas “limpas” de ornamento, para assim a casa ganhar um ar contemporâneo. Iguais àquelas que encontramos nas grandes metrópoles. Tem razão os senhores e senhoras... desta forma afirmam sua presença na atualidade, nada mais justo! Mas não podem fazer isso em cima dos mais velhos. Podem construir novas casas, edifícios que marquem seus gostos. Há muito espaço para isso. Podem até modificar os interiores das construções antigas, pois mudam as necessidades.

Digo ainda que nada mais atual, mais na “moda” para quem não concorda com meus argumentos anteriores, do que as combinações entre o antigo e o novo. Por isso, lamento que da casa verde e branca que poderia estar toda restaurada com pintura nova destacando seus ornamentos clássicos estando com seu interior climatizado e adaptado, assim toda linda e revigorada ela pudesse contribuir para valorizar nossa história neste diálogo de gerações.

Para as medidas dos nossos órgãos públicos municipais. Quando alguém, por iniciativa particular, carecendo de bom senso ou desconhecimento, resolve tomar uma decisão como essa deveria obrigatoriamente consultar um órgão público, como o IPHAN, o que deveríamos ter representado em cada localidade. Isso se faz necessário e urgente, enquanto não tivermos essa compreensão do que é patrimônio histórico.

Uma fachada histórica também pertence a mim, a você caro leitor, a todos nós!  





Adriana Botelho (Mestre em Artes Visuais/Profª  da Universidade Federal do Ceará - UFC-Cariri/Documentarista) 
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