Por Luciana Bessa*
Conceituar ou definir um vocábulo
não é uma tarefa fácil, sobretudo se o vocábulo é Literatura, palavra de
caráter polissêmico e polifônico. Em sua obra, O que é Literatura? Sartre
afirma que a função e a natureza da Literatura encontram-se organizadas a
partir de três questionamentos:
Primeiro “o que é escrever?”.
Segundo o autor, escrever é uma maneira do homem se desnudar, se revelar para si
e para o mundo. Ao escrever, o escritor expõe seus pensamentos, suas ideias,
seus conceitos sobre si e sobre o universo.
“Por que escrever?”. Para Sartre, o escritor escreve para revelar
acontecimentos. Há uma transferência da realidade para a obra escrita. Os
fatos, quando transpostos para o livro, assumem um significado grandioso, é uma
espécie de (re)significação dos acontecimentos vividos. Por último, “Para quem
escrever?”. Conforme o filósofo, o escritor faz um pacto com o leitor, para que
ele colabore para (re)pensar o mundo e a realidade na qual está inserido.
Lajolo (1995) declara que as
perguntas sobre Literatura ultrapassam os séculos, porém as respostas são
sempre provisórias porque a cada época surgem novos conceitos. E acrescenta:
“as definições propostas para a Literatura importam menos que caminho
percorrido para chegar até ela”. (LAJOLO, 1995, p. 72). Na impossibilidade de
conceituar um termo tão rico e expressivo, reflitamos sobre sua existência e
para quê estudá-la. Afinal, a “(...) a literatura existe. Ela é lida, vendida,
estudada. Ela ocupa prateleiras de bibliotecas, colunas estatísticas, horários
de aula (...)” (LAJOLO, APUD ESCARPIT, 1995, p. 6).
Como todo tipo de Arte, a
Literatura está vinculada à sociedade em que se origina. É raro encontrar um
escritor “indiferente” à realidade, pois de alguma maneira, ele participa dos
acontecimentos vividos pela sociedade. Isso não significa, necessariamente, que
o escritor transforme sua obra num mero panfleto de denuncia social.
Ortiga et al (2010 ) afirmam que a Literatura é
importante, pois auxilia as ciências, sobretudo, as sociais, pois se trata de
uma forma de expressão que evidencia os fatores mais importantes de uma
sociedade como seus problemas, seus costumes, sua política, sua economia etc.
É preciso registrar que há uma
inversão de valores em nossa sociedade: quanto mais obras são publicadas mais
cresce o ódio à literatura, “considerada como uma intimidação e um fator de
“fratura social” (COMPAGNON, 2009, p. 23). Não bastasse, ele declara que “a
iniciação à língua literária e à cultura humanista... parece vulnerável na
escola e na sociedade de amanhã” (COMPAGNON, 2009, p. 23). Cada vez mais se
trabalha menos a Literatura no contexto escolar.
A literatura é o produto do árduo
trabalho do escritor, que através de pesquisas, leituras e técnicas produz o
texto literário. Trata-se de um meio privilegiado de comunicação. Vale
salientar que ela não é essencialmente útil, no sentido de resolver os
problemas políticos, sociais e econômicos existentes em nossa sociedade. Mas
contribui, essencialmente, para a formação dos homens, levando-os a refletir
sobre si e sobre o outro. Inquieta-nos, proporciona prazer, emoção e
entretenimento.
Literatura para quê? Trata-se de
uma poderosa ferramenta que permite ao homem conhecer melhor a si, ao outro e o
mundo no qual está inserido; é um instrumento de desenvolvimento intelectual,
quando permite ao leitor compreender certas questões éticas e morais.
*Doutoranda em Letras pela
Universidade Federal do Ceará e pesquisadora da poética de Carlos Drummond de
Andrade. Integrante do Coletivo Camaradas, da Ala Feminina da Casa de Juvenal
Galeno e da Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará.