Bia Gonçalves - poeta e integrante do Coletivo Camaradas |
Por Alexandre Lucas*
O processo de organização do
Coletivo Camaradas em torno das artes e da literatura dever ser antes de tudo uma
estratégia para refletir sobre a vida.
Esse entendimento deve nortear as nossas ações, em conjunto com o um
embasamento teórico da necessidade de democratização da produção humana e de
organização política como instrumento para ocupação e a tomada de poder
politico pelas camadas populares.
Uma das atuações destacadas do
Coletivo Camaradas é no campo da literatura, em especial, da poesia. Faz-se
necessário matutar sobre essa prática para que tenhamos noção da dimensão
política e pedagógica que ela representa para a nossa organização.
Lançamento de livros, montamos
pontos de leitura, realizamos intervenções urbanas, rodas de poesia e de
leitura e temos um número significativo de escritoras e escritores. Como é
possível juntar esse conjunto de ações para potencializar uma poética e a
poesia?
É preciso se organizar em torno
da poesia, sem perder o viés político que nos orienta e que nos forma no campo
das artes e da literatura. Um dos elementos pedagógicos para isso é o tripé:
Estudo contextualizado das artes e da literatura, ou seja, só é possível compreender
tanto a arte quanto à literatura, a partir do seu contexto histórico-social;
Vivência, enquanto elo de reaproximação do artista-escritor/obra/público é
primordial dessacralizar os espaços e a produção simbólica como possiblidade de
criar pontes de identidade e de conhecimento; e experimentação do fazer
estético, artístico e literário como instrumento de empoderamento social, isto
é, o experimento é importante para que o outro se veja capaz de produzir simbolicamente.
É possível juntar adultos e
crianças num grupo de poesia? Certamente! Juntar, trocar e aprender de forma dialética
é um dos caminhos; lógico que compreendendo as devidas diferenças de vivências
e de assimilações do conhecimento. Uma criança não vai entender e ter os mesmos
desejos de um adulto e vice-versa.
Ao mesmo tempo é importante ter
um olhar para que as crianças sejam visibilizadas como pensadoras e produtoras
do fazer poético. Um grupo de poesia formado por várias gerações, mas que as
crianças possam protagonizar nos diversos micros espaços políticos. Descobrir,
ler, escrever e experimentar numa dimensão de solidariedade e construção
coletiva é essencial para o exercício da nossa formação política.
Dessa forma, estamos contribuindo
para descolonizar os espaços e os sujeitos da palavra que historicamente
estiveram e estão alinhados às elites econômicas. Vamos subverter e instigar a
palavra escrita e falada que sai das bocas e mãos dos excluídos e silenciados.
A apropriação da palavra tem que
ir além da decodificação e ser instrumento de descoberta do mundo e
empoderamento social. É com esse olhar que devemos nos guiar para nos compor
enquanto grupo de poesia.
No meio do caminho tem inúmeras possibilidades,
podem ter pedras, mas a poesia pode e deve ser explorada na diversidade de
formas e conteúdos e se tecer nos mais diversos suportes e inovações tecnológicas.
Tenhamos o nosso grupo de poesia!
*Pedagogo e integrante do
Coletivo Camaradas.