Um direito popular é possível


 Por Livia Maria*

O termo Assessoria Jurídica surgiu no Brasil em meados do ano 1960, para designar o apoio promovido pelos juristas a população em geral visando facilitar o direito ao acesso a justiça.

Em se tratando da Assessoria Jurídica Universitária (AJUP), é de conhecimento geral que a academia se faz com base num tripé: ensino, pesquisa e extensão, sendo esta última o equipamento que proporciona a aproximação da Universidade com a população. Ou melhor, é o dever que a academia tem de retribuir a sociedade de forma colaborativa. Sendo assim, é o instrumento utilizado pelos estudantes de direito como forma de extensão universitária alternativa. Alternativa porque atuar em uma AJU proporciona ao estudante a oportunidade de se formar enquanto sujeito crítico e militante e não apenas preencher créditos de atividades extracurriculares.

Pra fechar a sigla, a palavra "popular" no final quer dizer que é do povo, da classe trabalhadora, para os marginalizados e vulneráveis, dos e para as/os oprimidas. 

Essa seria uma forma mais simples de conceituar e explicar o termo AJUP -Assessoria Jurídica Universitária Popular.

Primeiramente se faz fundamental compreender que o papel da AJUP não é simplesmente uma forma de assistência jurídica, muito menos de caridade a comunidade externa. Diferente disso é uma forma de extensão Universitária alternativa justamente pelo motivo de todos os projetos extensionistas seguirem a linha de formação em educação popular para os Diretos humanos. Ou seja, a AJUP possibilita a construção de um espaço de construção coletiva, que une o conhecimento acadêmico, eivado de técnicas e formalismo, com o conhecimento popular, que apesar de informal é rico em experiências e vivências tradicionais que possibilitam a práxis da teoria que baseia as AJUPs, que acredita na emancipação política do povo como meio de revolução e transformação social.

Essa organização tem uma base teórica firme, a qual é repassada de geração a geração pelos integrantes de tal maneira a formar de fato "operadores do direito do povo". Por isso o método norteador da atuação da AJUP é a educação popular de Paulo Freire, que entende que o ensino só é produtivo se for baseado na própria realidade do indivíduo, para que este compreenda o conjunto que a compõe, prós e contras, instigando a criticidade, o questionamento e, por conseguinte, a mudança, sendo o próprio povo os protagonistas dessa luta.

A atuação da AJUP se dá tanto dentro das IES como junto aos movimentos sociais e as comunidades, através de equipamentos oficiais, jurídicos, extrajurídicos, políticos e da conscientização.

Olhando de longe pode parecer um trabalho pequeno, mas faço uma analogia aqui ao trabalho de formiga mesmo. As AJUPs estão (trans)formando os cursos de direito do Brasil, estão pautando nos mais variados espaços os Direitos sociais/fundamentais/humanos de forma a buscar garanti-los a todos e todas.

As AJUPs estão formando leigos em ativistas jurídicos, a exemplo da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR), e juristas, que antes eram só burgueses, em profissionais populares, a exemplo da Rede de Advogadas e Advogados Populares (RENAP).

Atualmente na Região do Cariri há uma AJUP com mais de 13 anos de experiência em educação popular para os direitos humanos, o P@JE – Programa de Assessoria Jurídica Estudantil, da Universidade Regional do Cariri – URCA, é formado e gerido por estudantes independentes dos variados cursos desta IES, como pedagogia e economia, mas com maioria de estudantes do curso de direito.

O P@JE já atuou junto com a ONG Projeto Nova Vida em Crato, na Cadeia Pública do Crato, no Assentamento 10 de Abril, no Centro de Semiliberdade de Juazeiro do Norte e agora está fazendo trabalho de base nas escolas públicas de ensino médio, pautando sempre questões relacionadas ao combates às opressões, utilizando a metodologia da educação popular sob a perspectivas dos direitos humanos. Simultâneo a esses projetos de extensão, o grupo sempre realizou intervenções, manifestações, estudos e eventos formativos dentro e fora da universidade.

Seguimos na luta.




*Acadêmica do curso de Direito da Universidade Regional do Cariri – URCA, integrante do Coletivo Camaradas e do P@JE.

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