A comunidade do Gesso e as universidades


Por Alexandre Lucas*

A falta de diálogo e de organização provoca o isolamento político e tende a ampliar o distanciamento para a resolução das demandas sociais, neste contexto é essencial a amplitude de compreensão dos sujeitos que compõe o território e o lugar  e a capacidade de impulsionar desenvolvimento social com protagonismo popular. Na comunidade do Gesso, no Crato-CE, o Coletivo Camaradas tem uma perspectiva de atuação pautada pela conversação   dentro de uma rede de articulação denominada “Território Criativo do Gesso”, a qual visa potencializar às ações das instituições e grupos que atuam dentro e no entorno da comunidade que é situada entre quatros bairros: São Miguel, Pinto Mandeira, Santa Luzia e Centro.

Neste arcabouço  de articulações e de possibilidades, as universidades podem ser elementos centrais para impulsionar o processo de desenvisibilização territorial, criação de uma narrativa desenvolvimentista e popular e contribuir  para o processo de democratização do conhecimento e ampliação da visão social de mundo.

Esse é o caminhando que vem sendo trilhando pelo Coletivo Camaradas para comprometer as universidades da região do Cariri, no sentido de prolongar o seu tripé de  Ensino, Pesquisa e Extensão,  na dimensão da prática social dos indivíduos, tendo como espaço laboratorial  a paisagem cultural  e as narrativas sociais da comunidade do Gesso.

Esse entendimento parte do pressuposto da necessidade de trabalho processual que torne a presença das universidades um corpo não estranho ao lugar e que tenha a capacidade de criar teias multirelacionais com instituições e grupos que atuam no Território.

Isso visa inibir a compreensão de evento de universidade em comunidade que muitas vezes tem um caráter nocivo,  baseado no assistencialismo e no  “selfianismo”, ou seja, na ação que não contribui para o protagonismo comunitário e  que enxerga a ação acadêmica como caridade e a comunidade como coitadinha.

O norteamento deve caminhar no sentido de buscar a conjugação entre o saber acadêmico e a prática social dos sujeitos,  apontando a necessidade de conceber a comunidade  para além da comunidade e substanciado  por  um processo formativo contínuo que possibilite repensar a prática social para uma construção de organização e desenvolvimento comunitário.

As universidades tem que ter a dimensão que a sua presença na comunidade é uma trama de trocas de saberes e fazeres, onde  é preciso refletir sobre as diversas narrativas que constituem  a comunidade para que o  saber da academia não seja um conjunto de prepotência intelectual, desvinculada da realidade.

Possibilitar vivência, experimentação, confluência das vozes diversas, sistematização e reflexão cientifica, diálogos e pontes, apresentar potências criativas e mobilizadoras para a qualidade de vida e “desilhar” universidade e comunidade  de forma permanente e interligada a luta pela democratização dos saberes e dos espaços de poder, possivelmente sejam   alternativas para a construção e fortalecimento de tipos novos de universidades e de experiências comunitárias politizadas e comprometidas com o direito à cidade nas suas múltiplas dimensões.


*Pedagogo e integrante do Coletivo Camaradas
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