Por Alexandre Lucas*
A qualidade de vida diz respeito a construir uma narrativa de sociedade em que as pessoas possam aprender a cuidar do seu lugar como forma de gerir um ambiente sustentável, saudável e coletivamente solidário. A Comunidade do Gesso tem a possibilidade de sonhar e de exigir direitos exaustivamente negados.
A forma inadequada do descarte do lixo em cada local é fruto de uma construção social e muitas vezes ocorrem pela ausência do poder público, no sentido de orientar a população sobre os benefícios, os cuidados e a legislação pertinente.
Julgar a população sobre os seus equívocos em relação ao descarte do lixo é uma forma inadequada de lidar com a questão da poluição ambiental.
A questão de educação ambiental é primordial para redução dos danos gerados aos seres humanos e ao planeta. É preciso pensar a redução do lixo, alinhada a uma compreensão de saúde preventiva e ao mesmo tempo como eixo estruturante de uma nova estética social, em que a assepsia urbana é fruto de uma consciência social de cuidado com a vida. O que se contrapõe a higienização social em que se esconde pessoas e as suas subsistências.
Entretanto, a educação ambiental não se prática por decreto ou transposição, é necessário considerar o processo de internalização histórica de descuido com a vida no planeta, em especial, com a vida das camadas populares e os seus lugares.
Mas só educação ambiental não basta, é preciso recriar uma nova paisagem urbana com a intervenção direta do estado e o protagonismo popular, visando construir relações de pertencimento e de cuidado coletivo.
Esse talvez seja o principal desafio, costurar um entendimento de que a politica pública deve ter como bússola a compreensão das narrativas de cada lugar, como elos de reinvenção dos diálogos e das construções sociais.
A comunidade do Gesso é atropelada por valas e esgotos estourados, por entulhos e pontos de lixos residências, por embalagens e garrafas pets. O que não se diferencia de outras áreas periféricas do país, mas é possível perceber também entre os escombros sociais uma teia de sonhos tecida por cada morador, que mesmo machucado pelas promessas incontáveis ao longo dos anos e os olhos carregados de descrença que ainda reside esperança. Os suportes para sacolas com lixo feitos com caixas de geladeiras pelo Senhor Chico Preto, a farmácia viva desenvolvida pelo Coletivo Camaradas, o Cinturão Verde iniciativa do Projeto Nova Vida, as intervenções visuais deixadas pela comunidade e artistas de diversas regiões do Brasil, o zelo dos jovens com a manutenção da quadra do Gesso, os jardins construídos por Francisca para substituir os focos de lixo são exemplos de que o desejo de se edificar um mundo melhor, a partir do lugar em que se vive continua sendo escrito por cada iniciativa que se acende e redesenha uma nova narrativa de comunidade.
*Pedagogo e integrante do Coletivo Camaradas