Por Alexandre Lucas*
O Cariri é uma reinvenção do nordeste reinventado. Engana-se
quem em acha que o Cariri é apenas tambores e pífanos, mateus e catirinas,
guerreiras e guerreiros de reisado, pisadas de coco e batidas de maneiro pau. O Cariri
é também lugar das galerias de rua, das batidas eletrônicas dos DJs, das danças
que tem como palco a rua e das
vozes politizadas do rap.
É o Cariri também do Hip Hop que se reoxigena ao longo das
décadas e cria processos de organização nas margens das cidades, que se
reconecta com o mundo e que se apropria dos espaços improvisados para ensaiar, gravar, cantar e deixar suas
marcas.
Como em outras partes do Brasil, o Hip Hop do Cariri penetra dentro das novas mídias para registrar
as suas produções e criar os seus empoderamentos e intercâmbios. Os seus vídeos e músicas são hospedadas no
mundo, o artista é o produtor.
É nas margens das cidades que o Hip Hop se fortalece e cria suas trincheiras
de resistência e criatividade. No mesmo
palco das injustiças e violências sociais, militantes do Hip Hop alimentam as
suas utopias através da arte que está entranhada na vida.
No Cariri, os grupos de se juntam e criam novas conexões e
redes, dialogam com outras linguagens e
estéticas, algumas vezes se hibridam. É o
misturado entre o contemporâneo, a tradição e a criatividade de universidades
das ruas.
É a partir deste processo de dialogo, de confrontos e
diversidade que vão surgindo estopins de
criatividade e de organização e novos
militantes da cultura Hip Hop vão sendo formados.
As trincheiras de ação e luta tende a não cessar, existem conectores entre
as margens que provocam intercâmbios colaborativos, idas e vindas de militantes
do Hip Hop acontecem no Cariri.
As margens das cidades criam um novo circuito estético, artístico,
político e criativo que não cabe dentro das institucionalidades burocráticas ou
dos enquadramentos estéticos.
Movimento que se banca para fazer as coisas acontecer. Os
custos financeiros para produção e
circulação dos processos criativos são bancados pelos militantes do próprio movimento.
Ao mesmo tempo em que defende políticas públicas de financiamento para cultura e qualidade de vida para a população
marginalizadas das cidades.
As vozes silenciadas das margens ganham no Hip Hop uma arte que aponta para o compromisso social. No Cariri o Hip Hop é coisa séria, é atitude cotidiana e fuzil de consciência de 365 dias.
*Artista/educador, pedagogo e coordenador do Coletivo
Camaradas.