Militantes do movimento negro denunciam ato de racismo no Crato


Relato de Racismo no município de Crato/CE

No dia 24 de agosto de 2014, aproximadamente 03:00h, na praça do Pimenta, Crato-CE, estávamos sentados na referida praça (Verônica Isidorio e Ridalvo Felix) conversando, quando fomos surpreendidos por um veículo cross fox de cor prata, de placas KHU 3632, onde se encontravam aproximadamente quatro homens jovens visivelmente embriagados. No momento em que nos viram, com nossos cabelos na forma natural, estilo “black power”, reduziram a velocidade do carro, aproximaram-se e começaram a nos agredir, batendo no carro, buzinando e proferindo, aos gritos, palavras racistas do tipo: “cabelo de bucha”, “cabelo Bombril”, “cu preto”, vocês trepam?, bando de macacos”. Tentamos acionar a polícia por duas vezes pelo celular, quando eles perceberam, começaram a nos ameaçar com as seguintes palavras: “agora vocês vão ver”, “esperem para ver”, “ a gente vai pegar vocês”. Percebendo a ameaça e temendo pela nossa segurança, caminhamos até o Restaurante Casarão, onde se encontravam mais pessoas. 



Nós nos sentimos inseguros pelo fato de estarmos simplesmente sentados em uma praça sem incomodar ninguém e pessoas se sentirem no direito de vir nos desmoralizar. Aflorou em nós, o sentimento de humilhação, ofensa e de indignação, pois fomos tratados como se fôssemos seres humanos de categoria inferior.

Respeitem meus cabelos, brancos!

A “tradicional família cratense” teme e seus pilares de “tijolo de buriti” estão se desmanchando, pois é visível que negras e negros estão conquistando cargos e lugares historicamente ocupados pela classe dominante, majoritariamente branca. As funções públicas, universidades, redes de televisão e rádio, cargos de direção, etc, são alguns dos espaços em que têm sido notável a presença de negras e negros como dirigentes, como fruto de nossa luta e resistência às heranças da escravidão, que nos quer em situação de inferioridade. Por isso, os setores dominantes da sociedade, majoritariamente brancos e reacionários têm se preocupado e expressado de forma mais explícita o racismo que, com palavras, gestos e ações, tenta desqualificar o povo negro.



Talvez fosse mais fácil se somente os nossos cabelos dotados de crespura – um dos elementos que identifica o nosso ser negro - fossem rechaçados nessa sociedade, cada vez mais racializada e, consequentemente, dotada de práticas racistas. O racismo sobre nós apunhalado traduz o que comumente acontece no nosso país, e evidencia o desvelamento de agressores racistas, que com gosto de fel, agem no “Cratinho de açúcar”. O racismo se fundamenta numa histórica conduta, em que a partir de um padrão de brancura adotado e imposto na sociedade brasileira, nós negras e negros somos alvos, todos os dias, desse problema que desumaniza, bestializa e tenta inferiorizar os povos afrobrasileiros.



Nosso cabelo é lindo, nossa pele é linda. Disso temos muito orgulho.

O povo brasileiro precisa aceitar e respeitar que o negro foi e é responsável pela sedimentação de fundamentos cosmológicos e civilizatórios negro-africanos na formação da sociedade brasileira. 
As práticas de discriminação racial são crime inafiançável. É urgente que os racistas sejam punidos para que assim possamos legalmente reprimir essas atitudes, que também são conhecidas como aversão ou “crime de ódio” à população negra.

Transformemos nossa dor e revolta em luta. 
Abaixo o racismo no Cariri cearense!

Ana Verônica Barbosa Isidorio 
(Professora da Rede Estadual de Ensino/município de Juazeiro do Norte)

Ridalvo Felix de Araujo
(Professor doutorando pelo PÓS-LIT/UFMG e tutor no Curso de Especialização UNIAFRO Promoção da Igualdade Racial na Escola/UFOP)

02 de set./2014
Crato/CE
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