Por Alexandre Lucas*
O conhecimento produzido pela humanidade deve ser socializado
e servir a prática social, essa premissa
pedagógica deve ao meu ver nortear toda ação que envolve o ensino/aprendizagem. É neste aspecto com que
venho refletir sobre a relação do ensino de artes nos sistemas não formais de
educação, como é o caso dos programas sociais governamentais e não governamentais.
Qualquer iniciativa que vise gerar inclusão social para as
camadas populares é um elemento importante para se combater a vulnerabilidade social.
Entretanto, é essencial ter um norte político-pedagógico visando combater o “fazismo”,
ou seja, o fazer desconectado da prática social e dos contextos históricos e
conjunturais.
Neste sentido, o ensino das diversas linguagens artísticas
dentro dos programas sociais deve ser amparado por uma lógica que se contraponha
a superficialidade e a ausência de um suporte teórico visando eliminar o fazer
pelo fazer ou aprender pelo aprender.
Ora o ensino de artes não deve ser encarado como um
passatempo e exige embasamento teórico e pedagógico, pois a questão não é
ensinar a dançar, a desenhar, ensaiar uma peça ou tocar um instrumento, mas vai,
além disso, passa pela necessidade de compreensão do que está fazendo e o que
se quer alcançar.
É preciso sair do previsível e do conteúdo de arroz com feijão
para as camadas populares. É preciso possibilitar a ampliação das visões
sociais de mundo, partindo da compreensão que o ensino necessita ser
contextualizado e perpassar por várias áreas do conhecimento, tendo em vista
que arte não se explica por si só ou pelo
seu fazer.
Nesta perspectiva acredito que o ensino de artes nos
programas sociais deva ser amparado no tripé: Ensino Contextualizado, o que vai
exigir profissional com formação na área da linguagem artística o que em tese
vai possibilitar embasamento teórico e
pedagógico; vivência, é preciso que beneficiados tenham acesso a outros espaços
de circulação e fruição artística, a novos discursos e a estéticas plurais e; experimentação, é sempre necessário criar a
possibilidade de produzir algo no sentido materializar os estudos e a
vivência e possibilitar, um novo olhar sobre os pensares e fazeres estéticos e
artísticos.
O caráter do tripé pedagógico proposto visa tornar a arte um
elemento de conhecimento e reflexão da realidade, instigar os processos criativos
e colaborativos, ampliar o acesso a diversidade e ao deslimite da estética e da arte e contribuir para a
construção de um novo tipo de agente social capaz de tornar a arte um elemento de humanização, resistência
e busca do saber.
Entretanto, ainda encontramos barreiras que precisam
superadas nos programas sociais que dizem respeito, por exemplo, as condições
de trabalho oferecidas. Os profissionais da área não são atraídos pelos baixos
valores ofertados, o que acaba favorecendo que qualquer pessoa que tenha habilidade
empírica possa ser um educador nestes programas. Favorecendo a fragilidade do programa e do
seu impacto social.
A educação para as camadas populares seja no sistema formal
ou informal de ensino só será consequente, quando o conhecimento produzido
historicamente for socializado de forma contextualizada e que sirva para a
prática social. Caso contrário, estaremos apenas contribuindo para os fazedores
de passividade e aniquilamento político.
*Pedagogo e artista/educador