Por Alexandre Lucas*
“Uma Mentira
contada mil vezes, torna-se uma verdade” essa celebre e infeliz frase é de um
estrategista de comunicação e ex-ministro do Estado Nazista na Alemanha, Joseph
Goebbels que serve como elemento reflexivo a conjuntura que
envolver a Mostra SESC Cariri deste ano. Desde o dia 05 deste mês, circula nas
redes sociais a retirada da programação da Mostra na cidade do Crato sem um
pronunciamento oficial da instituição que explique os motivos para tal
posicionamento.
Diversas especulações vêm sendo feitas e algumas chegam a assustar de tão
marcianas que são.
Indiscutivelmente o SESC desempenha um papel fundamental no
desenvolvimento da região do Cariri e tem ao longo dos anos contribuído no
campo da cultura, a Mostra SESC é um importante instrumento para fortalecer o
turismo de eventos e toda a sua cadeia. A Mostra SESC gera renda e favorecer
trocas estéticas e artísticas.
Vale ressaltar que as ações promovidas pelo SESC é fruto do
dinheiro do povo brasileiro, recurso público. Não deve ser encarada como
recurso privado. Isso significa que temos o direito de saber e escolher como
esses recursos serão gastos. Portanto, não é bondade, favor ou algo parecido o
que o SESC faz, mas é e deve ser antes de tudo responsabilidade social.
Por entender importância da Programação da Mostra SESC no
Crato, não por uma questão de bairrismo, mas por um entendimento econômico,
defendo (e não sou o único) a permanência dela na nossa cidade e a ampliação da
mesma para outras cidades da região do Cariri. Pensar a retirada Mostra do Crato
significa em proporções diferenciadas retirar do Juazeiro do Norte as romarias.
Nas mesmas redes sociais espalha-se um discurso
perigoso de ódio que coloca artistas contras artistas, artistas como vilões. Não
comungo, nem fortaleço essa onda desagregadora, prefiro enxergar um desejo
amplo de diversos artistas desse território chamado Cariri querendo ser
inclusos, querendo pagar o pão de cada dia com o suor da sua criatividade. Querendo
ser percebidos e vistos como produtores permanentes e que dão a sonoridade, as
cores e as expressões múltiplas deste caldeirão híbrido e efervescente.
É hora de estamos juntos orando na mesma cartilha
pela transformação e o desenvolvimento do Cariri sem retirada de conquistas.
Queremos a Mostra com a sua programação no Crato como vem ocorrendo há cerca de
20 anos.
Um discurso que não condiz com a verdade é que o
Governo Municipal do Crato não apoiou a Mostra e por isso a programação prevista
para cidade foi retirada. Mentira, mentira, mentira e essa não pode se passar
por verdadeira. Estive acompanhando de forma muito próxima os acontecimentos e posso
afirmar com convicção que o gestor municipal, Ronaldo Gomes de Matos
disponibilizou os serviços de todas as secretarias municipais, dentre elas
Cultura, Educação, Segurança Pública (Guarda Municipal e Demutran), Esportes,
Meio Ambiente e Controle Urbano, como também os seguintes espaços: todas as
praças e Centro Cultural do Araripe. Menos o Teatro Municipal Salviano Arraes
que já estava disponibilizado para Guerrilha do Ato Dramático. Vale ressaltar
que o mesmo encontrava-se interditado e foi preciso fazer alguns ajustes
emergenciais para poder atender a Guerrilha.
Destaco que a gestão municipal, da qual me incluo,
não tem viseiras e reconhece a importância da Mostra SESC para cidade, tanto do
ponto de vista econômico, como do desenvolvimento para o campo das artes e da
cultura. É incalculável o prejuízo político e econômico para a cidade. É desprezível
e repudiável essa ação contra o povo do Crato.
A Secretaria de Cultura do Crato tem se esforçado
para pensar a cultura como vetor de desenvolvimento para a cidade e algumas ações
já estão sendo iniciadas neste sentido, como o processo de criação do Sistema
Municipal de Cultura que é uma prerrogativa federal que colocará a cultura dos municípios
brasileiros em outro patamar.
Neste sentido chamo atenção dos meus companheiros
e companheiras de arte que estão há anos na luta em defesa de uma nova
perspectiva de gestão da cultura que contemple a demanda local sem esquecer a importância
dos intercâmbios e as trocas estéticas e artísticas, esse é um momento de
reconhecer o papel imperativo de soberania municipal, que o Governo Municipal do
Crato teve ao acolher e defender a manutenção do movimento Guerrilha do Ato
Dramático Caririense que contempla não um grupo, mas um conjunto de mais de 20 companhias
e instituições, algumas delas que dificilmente passariam pelas curadorias dos
grandes eventos, pois estão dentro de outra perspectiva estética e artística.
Esse posicionamento comunga com o que muitos de nós defendemos: o atendimento prioritário
as demandas locais e regionais, sem perder de vista outras possibilidades e
conquistas externas. Esse posicionamento foi acertado e me representa. O que não
me representa é a chantagem, o boicote e a exclusão da produção múltipla do
Cariri.
Portanto, não existe disputa de eventos, o povo
do Crato, a meu ver não quer escolher entre Mostra SESC ou Guerrilha do Ato Dramático
Caririense (Movimento), mas querem sim, os dois. Os dois devem ter vida longa. Não
deixemos que as vitrines, os templos e ruas das artes tenham suas mortes
anunciadas. Sejamos todos insubmissos
guerrilheiros das artes do Cariri e que nenhuma mentira se torne verdade.
*Pedagogo, artista/educador e integrante do
Coletivo Camaradas.