Por Flavianny
Tiemi*
Hoje, a capa do Jornal Correio da Bahia, trouxe uma polêmica
nacional à tona. Em caixa alta anuncia: Felicidade, dizendo que a cantora
Daniela Mercury assumiu seu relacionamento com Thaís. E Abaixo, Feliciano, que
todos sabem, Presidente da Comissão de Direitos Humanos, famoso por suas
declarações homofóbicas.
Feliciano conseguiu colocar na sociedade um debate que estava no
armário. Obrigou a toda uma geração conservadora, recalcada, e ressentida a
enxergar que a individualidade, é de responsabilidade de cada um e que os
modelos de família e sexualidade se alteraram. Cada vez mais, avançamos para
conseguir respeitar os direitos individuais, que já não cabe mais a defesa da
tradição, família e propriedade.
Como mãe e educadora que dialoga com os jovens, vejo uma geração
mais livre, menos preconceituosa, e discutindo, não a inicialização à
sexualidade hetero - como nos ensinaram, mas a inicialização da sexualidade
como um processo de afetividades que inclui o prazer e o gozo seja lá com quem
for. Alterando as percepções sobre o corpo, sobre o prazer, sobre o amor.
Participei de um evento recentemente, um curso de formação para
professores sobre Saúde e Prevenção nas Escolas, onde participavam professores,
agentes de saúde e jovens – adolescente. Nesse curso ouvi de alguns
professores, na discussão sobre homofobia “eu
num sou homofóbico, respeito, mas ele lá e eu aqui, não preciso ser amigo dele,
mas não vou agredi-lo, nem violentá-lo” ou “não sei se consigo conviver com as amigas lésbicas da minha filha, na
rua tudo bem, mas dentro de casa?!”.
Comentando sobre isso com um amigo sobre o ocorrido (que também
está no curso) disse que invocar a palavra respeito, parece mágica para os
professores. Digo “respeito”, e ele aparece. Com muita ironia ele me disse: “Você deveria ter dado o exemplo da água.
Quem tem fobia à água, não vai lá agredir a água com palavrões nem chutes,
apenas não chega perto. A água, lá. E você, aqui.”
No mesmo curso ouvi os jovens discutindo abertamente as práticas
homofóbicas. Abordando as questões de afetividades e direitos individuais. Isso
me fez refletir que precisamos avançar. Está na hora de pensarmos numa educação
para a sexualidade que abordem as práticas afetivas de identidade de gênero até
o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo, de maneira aberta, para que a
descoberta sexual seja prazerosa, plenas de cuidado com os corpos envolvidos.
Ainda vejo a necessidade de avançar em questões morais e arcaicas que se arrastam no debate social brasileiro, como a legalização do aborto. Em pauta, mas que recai diariamente na marginalização, criminalização e maus tratos das que praticam. O que acho engraçado, é que aqueles que defendem contra a legalização do aborto utilizam o argumento "todo ser tem direito a vida" e uma crença individual, faz com que queiramos que o Estado regule a ação do outro (porque se somos contra podemos simplesmente não praticar, já que é um direito individual da escolha), proibindo que o outro faça algo que só tem consequência o indivíduo.
Ainda vejo a necessidade de avançar em questões morais e arcaicas que se arrastam no debate social brasileiro, como a legalização do aborto. Em pauta, mas que recai diariamente na marginalização, criminalização e maus tratos das que praticam. O que acho engraçado, é que aqueles que defendem contra a legalização do aborto utilizam o argumento "todo ser tem direito a vida" e uma crença individual, faz com que queiramos que o Estado regule a ação do outro (porque se somos contra podemos simplesmente não praticar, já que é um direito individual da escolha), proibindo que o outro faça algo que só tem consequência o indivíduo.
Mas isso é assunto para outra hora. Voltando ao Feliciano VS a
Felicidade, a sociedade brasileira começa a debater a partir das declarações de
Feliciano, o atrelamento do Estado com a religião e perceber claramente, como é
perigoso os discursos e práticas, principalmente dos educadores, a respeito de
valores, de ensino religioso de base bíblica na escola pública, do amor. Como
diz uma amiga, pra terminar: “no islã, apedrejar mulher adultera é um valor”.
*Filosofa, pesquisadora, produtora
cultural e militante dos movimentos sociais