Por Ana Cristina de Sales*
Foto: Wilson Bernardo |
Ao adentrarmos a história do cariri cearense nos deparamos sempre com
exemplos de fé, percebidas através demonstrações de crenças em santos
populares. Tais manifestações são nutridas pelo imaginário popular que os
concede a santidade por terem atendido os seus clamores. Tratamos aqui da morte
de um homem, que não se sabe o nome e nem de onde ele veio, mas que despertou
múltiplas facetas entre os sujeitos que cultuam e narram suas memórias. O
monumento erguido no local de seu padecimento está localizado na zona rural do
município do Crato, Sul do Ceará, a Santa Cruz da Baixa Rasa como é conhecida
pelos devotos, lá foram construídas narrativas diversas permeadas por receios e
silêncios que são perpassadas de gerações e gerações. A tradição oral narra à
história de um indivíduo que vinha do Estado Pernambuco a procura de uma
boiada, no local de mata fechada na Floresta Nacional do Araripe (FLONA), o
homem se perde e morre de sede e fome ao lado de seu cavalo e um cachorro. Acontecimento que teria ocorrido em fins do século XIX e foi responsável
por despertar na população do cariri cearense múltiplas sensibilidades que
deram origem a crença de que o morto passara a realizar milagres, havendo
narrativas que retroagem ao ano de 1914 como marco do alcance de graças por
parte dos fiéis. Desde então os devotos passaram a cultuar o monumento erigido
no local e a realizar homenagens póstumas todo dia 25 de janeiro, alimentando
um ciclo de romarias na localidade. No momento,
para algumas pessoas a festa é denominada a missa do vaqueiro da Baixa Rasa,
onde mais de 400 vaqueiros com a imagem de São Jorge, terços nas mãos e gibão
de couro sobem a Serra. Desde cedo as crianças decidem acompanhar os pais,
ornamentando seus cavalos. Na entrada da estrada de chão batido,
os agentes ambientais controlam a entrada para não deixar entrar muitos
veículos. Grande parte das pessoas percorre mais de dois quilômetros a pé, mata
adentro, até chegar ao local do evento. Assim, a Santa Cruz da Baixa Rasa produz, há aproximadamente um século, muitas
graças no Sul Cearense. Aqueles que recorrem a ela além de fé têm a sua volta a
comprovação, pelo menos para eles, do milagre, sendo assim fácil acreditar que
eles, como devotos, um dia terão seus pedidos atendidos.
*Ana
Cristina de Sales – e-mail: aninha.historia@yahoo.com.br
Mestranda
pelo Programa de Pós – Graduação em História, Cultura e Sociedade da
Universidade Federal de Campina Grande - UFCG